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Os seus pensamentos o incomodam?

Acad. Noélio Duarte (Cadeira 13)

Deixe-me fazer uma pergunta a você: Prefere ficar sozinho, sem nada para fazer, ou levar pequenos choques? A pergunta pode parecer absurda, mas, de acordo com uma pesquisa publicada neste mês na revista científica “Science”, muita gente prefere levar choques a enfrentar alguns minutos a sós com os próprios pensamentos. Acha estranho? Mas há neste vasto mundo pessoas que pensam assim.

O resultado do estudo, que envolveu 220 voluntários em 11 testes, surpreendeu até seu coordenador, o doutor em psicologia Timothy Wilson, da Universidade da Virgínia (EUA). Ele disse que antes do estudo, pensava que os seres humanos eram capazes de usar seus cérebros para gerar pensamentos agradáveis, recuperar lembranças felizes. Mas não foi isso que ele descobriu.

Quando essas pessoas foram desafiadas a ficar de seis a 15 minutos sem companhia (nem mesmo do celular), 57% das 220 pessoas entrevistadas afirmaram ter dificuldades para se concentrar, 89% delas disseram que a mente vagou e 49% não gostaram da experiência. Em outro teste, 67% dos homens e 25% das mulheres preferiram levar choques a ficar sós.

O Dr. Wilson, escreveu em sua pesquisa: “Parece que há uma dificuldade para se distrair com a própria mente. Suspeito que a popularização da tecnologia e dos smartphones é ao mesmo tempo um sintoma e uma causa dessa dificuldade. Hoje temos menos oportunidade para refletir e desfrutar dos nossos pensamentos”.  Atualmente, há uma sistematizada campanha midiática para que o ser humano não entre em contato com seus pensamentos. Por isso, ele afirma que a internet é um produto que tem desenvolvido infinitas possibilidades para que o ser humano não pense. Quando se pensa, há uma natural tendência de se desligar dos instrumentos que liga à internet. Para os investidores da internet, pensar é um problema que precisa ser combatido. Não pensar e teclar é o ideal.

Conversei com um de meus alunos, especializado em tecnologias e plataformas de internet e ele me disse: “Eu não gosto de ficar sozinho. É que quando fico só, imediatamente sou consumido por centenas de pensamentos. E eu não gosto de pensar. Pensar me leva a reflexões. E ao refletir sou confrontado com realidades sobre as quais preciso tomar decisões e isso me causa estresse. Evito ficar só. Moro sozinho, mas não gosto de ficar só. Chego em casa e já ligo a televisão para ter um barulho, então pego o celular e procuro alguém para conversar”

A professora e Pesquisadora, psicóloga Lívia Godinho Nery Gomes, da Universidade Federal de Sergipe, a onipresença da tecnologia soma-se a outro fenômeno, que também ajuda a deixar os momentos reflexivos mais raros: a necessidade de estar sempre disponível. Há um apelo muito grande para estar em rede, compartilhar. Quem está de fora sente que está perdendo alguma coisa.

O também professor e Pesquisador da Universidade Federal Fluminense, Psicólogo Roberto Novaes de Sá, afirma que a tecnologia pode até criar mais obstáculos para quem quer ficar só com os próprios pensamentos, mas o fato é que isso nunca foi fácil para a maioria das pessoas. Nossa noção de realidade, de estabilidade e segurança é construída socialmente, através das relações com os outros e das ocupações. Quando não estamos inseridos em alguma atividade há um sentimento de não realização, fragilidade e angústia.

Segundo a pesquisa elaborada pelo Dr. Timothy Wilson, esse sentimento parece afetar mais os homens do que as mulheres.  É que os homens gostam menos de ficar sós e tendem mais à solidão. As mulheres são mais comunicativas, muitas delas não têm dificuldades em falar ‘sozinhas’. A solidão surge quando não há capacidade de comunicação com os outros ou consigo. O estar só não significa estar em solidão se você está de bem consigo mesmo.”

Não gostar do rumo dos pensamentos é uma das hipóteses levantadas pelos autor do estudo para explicar seus achados. É como se a mente nos dominasse e fôssemos absorvidos pelas ideias. A reflexão só é benéfica para a saúde mental se tiver um método e um objetivo, como na meditação. O tempo do silêncio e da quietude é um tempo que conduz à criatividade e não a esse vazio tão temido. É quando podemos ouvir nossa verdadeira voz, a voz interior.

Os evangelhos nos mostram um Jesus em busca de um momento solitário para poder pensar, meditar e orar. Nos diversos relatos, mostram Jesus ora sozinho sobre um monte, ora num deserto, ora num jardim. Ele fazia isto tantas vezes que seus discípulos, admirados, o interpelaram dizendo: “Mestre, ensina-nos a orar!”. Talvez eles estivessem dizendo: “Mestre, nós somos muito agitados, acostumados a uma vida barulhentas e não temos concentração suficiente para ouvirmos a voz de Deus dentro de nós...”. Ou talvez estivessem dizendo: “ensina-nos a ficarmos a sós conosco, enfrentarmos a nós mesmos com nossos pensamentos e nossas desorientações...”

Ainda hoje, diante de tantas opções de barulhos que nos desconectam da presença de Deus e da doce voz do Espírito Santo, precisamos dizer enfaticamente: “Ajuda-nos, Senhor, a apreciar o silêncio, para que nesse silêncio ouçamos a Tua doce voz,  Deus,  a nos falar através de Sua magnífica palavra”

Para que esse pretendido silêncio aconteça, precisamos tomar uma decisão: termos um momento a sós com Deus, no decorrer do dia. Talvez ao meio dia... Quem sabe, as 6 da tarde... Possivelmente no intervalo do almoço. Essa é uma atitude que nos ajudará a crescer em Graça e em conhecimento. Os nossos pensamentos precisam ser nossos aliados na conversa com Deus. Devem exprimir nossos anseios e desejos; nossas vitórias ou derrotas; nossas preocupações ou realizações. Aliados e não inimigos.

O apóstolo Paulo nos orienta a que devamos transformar-nos através da renovação de nossos pensamentos. E pensamentos renovados funcionam como oxigenação espiritual, ou seja, a sua voz do Senhor a nos falar: “Eu os amo com amor infinito!”



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Ó Deus, soberano e de bondade Com poder, sabedoria, amor profundo Criaste o universo, criaste a humanidade E manténs em tuas mãos o nosso...

1 Comment


Gilney Gomes
Gilney Gomes
Aug 26, 2019

Muito bom. Sem palavras...

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