Filhos adicionados no Facebook
Acad. Noélio Duarte (Cadeira 13)
Recentemente recebi a ligação de uma jovem mãe que muito aflita dizia: “Pastor, eu gostaria que o senhor conversasse com a minha filha a respeito do ‘face’. Ela passou das medidas e adentra a noite conversando com amigas. Eu receio que tem gente adulta nessa história porque ele me tem falado muito a respeito de um rapaz chamado Edu, a quem ela admira muito... Ah, pastor, faça alguma coisa prá me ajudar!” É claro que conversamos muito sobre essa questão e a orientação que dei foi que desse a sua filha um telefone de dois chips, desses bem baratos que apenas falam e não se conectam. E parece que a orientação funcionou, mesmo diante do protesto da filha. Segundo a mãe, as providências foram tomadas imediatamente e a situação está sob controle. Imagino que sim...
Recentemente, li uma matéria bem interessante escrita pela Dra. Mimi Ito, professora da Universidade da Califórnia e estudiosa do comportamento jovem na internet. Ela é mãe de dois adolescentes e estuda a maneira como os adolescentes e crianças se comportam na internet. É autora do programa Digital Youth Project, pesquisa de 2008 que mostrou como os jovens estão usando a rede para novas formas de aprendizado, amizade, relacionamentos amorosos e busca por informações. Ela tem ministrado palestras em todo o mundo sobre esse assunto e orientando como os pais e educadores devem lidar com o mundo digital, em temas como privacidade, bullying e o crescente uso de dispositivos móveis.
Segundo a pesquisadora, para a maioria das crianças e adolescentes, o principal uso da internet é uma extensão dos relacionamentos que elas têm ao vivo: elas mandam mensagens ou conversam com os amigos no Facebook — o que nós chamamos de redes de amizades. Mas muitas crianças usam a internet para ter acesso a novas informações, em redes como fóruns e plataformas de games. Nesses ambientes, elas também fazem amigos. Elas, entretanto, tem uma divisão muito clara desses ambientes: seria estranho ter um adulto ou um estranho por perto no Facebook, porque é nesses ambientes que elas se relacionam, fazem amizades ou flertam entre si. Há uma noção muito própria de privacidade e discrição.
Ela ainda afirmou que existem experiências que não foram absorvidas pelo intervalo de gerações. Os nossos jovens estão hiperconectados e durante todo tempo. Eles nunca desligam seus aparelhos. Isso não acontece para as maioria dos pais, porque eles não tiveram essa vivência. Nós, como pais, temos de educar a nós mesmos sobre o que está acontecendo, e querer nos envolver, assim como fazemos com os jogos de basquete ou as apresentações de música, teatro ou balé dos nossos filhos. É algo normal, mas que muitos pais parecem ter desistido com o mundo online, só porque não é algo familiar a eles.
E como os pais podem se envolver sem invadir a privacidade dos filhos? Um pai deve ser amigo do filho no Facebook? A pesquisadora é muito enfática quando afirma que aí é que entra a diferença entre redes de interesse e redes de amizade. Ela disse: “Eu nunca adicionaria meus filhos no Facebook: eles não querem que eu saiba por quem eles estão apaixonados, ou quem são os mais populares da sala. Pelo contrário! Conversamos sobre isso no jantar, mas não preciso ter contato com isso. Por outro lado, me envolvo nas redes de interesses deles” Se os nossos filhos entenderem que o seu interesse pelo que eles gostam é genuíno, será ótimo! Mas eles vão perceber se você estiver por perto só para tentar controlar o que elas fazem – e vão se rebelar por isso.
Uma pesquisa recente no Brasil informa que quase metade dos pais das crianças conectadas do País não usam a internet. Como eles podem educar seus filhos para usar a rede? Eles precisam necessariamente estar conectados e usar redes sociais, por exemplo? A Dra. Ito responde que “os pais precisam ver que seus filhos podem ajudá-los a entender a tecnologia, e prover a eles a sabedoria para lidar com a tecnologia. Muito do que nós estamos falando aqui é apenas sobre aprendizado e como se comportar em sociedade. É uma parceria: eles conhecem as ferramentas, nós podemos ajudar a dar os valores.
Outra preocupação crescente dos pais é como as crianças tem usado cada vez mais a internet nos celulares e tablets. É fato: o mobile cresceu muito, mas seu estilo de comunicação hoje, via Whatsapp, não é diferente de uma mensagem de texto. A mudança para o celular, há cerca de dez anos, é que fez a diferença, porque deu um espaço privado para os jovens. O que mudou é que, antes, com SMS, elas se comunicavam com no máximo dez pessoas. Hoje, com o Whatsapp, podem ser centenas de pessoas. Mas vale lembrar: elas estão fazendo isso de forma privada. Os jovens não acham mais que o Facebook é um espaço seguro para sua comunicação íntima, porque os professores e pais vão olhar o que eles estão fazendo. E crianças com menos de 13 anos não podem ter autonomia para ficar navegando sem o controle dos pais. Parece que a palavrinha mágica aqui é diálogo constante e agradável.
Este é um tempo paradoxal: ao mesmo tempo que é fascinante é preocupante. Fascinante porque podemos nos conectar em tempo real com qualquer parte do mundo. Preocupante porque nessas conexões, os vírus da maldade podem adentrar a vida de nossos filhos e contaminá-los, implantando neles a desconexão familiar.
O apóstolo Paulo já nos advertia em I Tess. 5: 11 e 17: “Exortai-vos uns aos outros e edificai-vos uns aos outros... E orai sem cessar”. Pais, busquem na Palavra de Deus sabedoria para lidar com um tempo como este de forma inteligente. Vocês são responsáveis por conectar seus filhos com Deus diariamente e não ao facebook.