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As crianças e os novos brinquedos

Acad. Noélio Duarte (Cadeira 13)

Desde a década de 80, psicólogos, pediatras, neuropediatras, pedagogos e psicopedagogos vem fazendo um grave alerta: Crianças não já não brinca mais como deviam. Muitos congressos foram realizados sobre o assunto e há farta literatura especializada no mercado provando a gravidade do momento. Mas, à revelia de tudo isto, a indústria de brinquedos automatizados, eletrônicos, celulares, ipads, ipods, tablets, vem inundando o mercado com os novos brinquedos, gerando ansiedade nas crianças e trazendo problemas aos cérebros infantis.

É grave a crise. Segundo especialista, o ato de brincar, o jogo lúdico, a faz de conta, a conversa mágica com personagens imaginários, torna o cérebro mais ativo e previne contra doenças psico-afetivo-emocionais. A brincadeira infantil é um refúgio contra as doenças que afetam a personalidade. Enquanto está brincando, a criança está no mundo do faz de conta, da magia, do imaginário pleno. Além disso, a brincadeira é fator de socialização, das saudáveis disputas e da criatividade em pleno curso. Não brincar é tornar-se isolado, não sair de dentro de si e grandualmente se internalizar.

Os especialistas registram que desde desde 1980 até 2010, quando pesquisas foram elaboradas, detalhadas e estudadas, houve um aumento de 400% no número de atendimentos em psiquiatria infantil e cerca de 300% de distúrbios relacionados à aprendizagem, sono e socialização. É evidente que a preocupação atinge a todas as especializações relacionados com educação e saúde infantil. O fato é que estamos diante de uma situação inédita: o aumento das doenças psíquicas infantis.

Antes dos anos 80, havia uma prática muito comum entre as crianças: elas criavam seus brinquedos e interagiam com eles: soltavam pipas, faziam carrinhos de rolimãs, soltavam pião, jogavam bolinhas de gude... Havia uma interação entre as crianças na escola, em suas ruas ou plays dos prédios onde moravam. Os pais tinham muito trabalho em fazê-los voltar para casa porque era prazeroso para aquelas crianças, estarem juntas até mais tarde. Atualmente, a preocupação é outra: os pais ficam insistindo para que seus filhos desçam ao play, visitem amigos, joguem futebol... Mas sem sucesso porque, os novos brinquedos ocupa-lhes a mente de tal forma que não conseguem se desligar. E quando não estão com brinquedos eletrônicos, estão no ‘face’ ou trocando informações pelo ‘whatsap’.

Segundo o Dr Flávio Comim, diretor de programas do PNUD (Programa das Nações unidas para o desenvolvimento) os tablets são uma péssima maneira que os pais acharam para ocupar as crianças. O uso excessivo de aparelhos eletrônicos limita as conexões neurais. As crianças não pensam aberto, mas dentro da caixa. , o ideal é que as crianças evitem os eletrônicos até os 12 anos. Além dessa abordagem, o especialista afirma que os pais devem se importar com os estudos dos filhos. As crianças não aprendem com discurso, mas sim com a prática. Você briga com seu filho por causa de uma nota ruim e, quando ele vem mostrar algo que aprendeu, você diz “bonito, agora vamos ver televisão”. Os pais têm de ser coerentes. O efeito família é superior ao efeito escola na explicação do desempenho das crianças. Professores não conseguem mudar a realidade que o aluno vive em casa. Há muito que os pais podem fazer: ler um livro, brincar juntos, criar rotina. Isso dá segurança à criança ir bem na escola. Mas é preciso regras, punições consistentes.

O Dr. Flávio ainda relata que há uma espécie de anarquia disciplinar silenciosa dentro dos lares, havendo inclusive ausência de punições quando os limites são extrapolados. As maneiras mais modernas de punir estimulam a reflexão das crianças, como na ideia de minutos. Você reconhece que aquilo que a criança fez não está certo e dá um tempo para ela pensar. Mas sempre com afeto. As famílias parecem estar cansadas demais para se preocupar com o mundo dos filhos – os pais terceirizam para a escola a educação dos filhos e esta devolve para os pais. As crianças são educadas em um vácuo que que tem sido preenchido pela tecnologia.

Seminários recentes sobre a influência dos eletrônicos na aprendizagem infantil relatam que os iPad e tablets são a maneira que os pais de classe média encontraram para ver as crianças ocupadas. Um superestímulo virtual pode levar também a problemas de comportamento, como à busca por satisfação imediata em tudo. O uso excessivo de aparelhos eletrônicos limita as conexões neurais. As crianças não pensam aberto, mas dentro da caixa, naqueles parâmetros que são dados. As sociedades médicas na Inglaterra e nos EUA recomendam que, pelo menos até os 12 anos, crianças não usem muitos eletrônicos. Os pais, talvez no intuito de ajudar e maravilhados em ver os filhos operando esses aparelhos, se rendem, indefesos, a todo tipo de tecnologia. Os problemas vêm depois.

Enquanto os eletrônicos estão em alta, a leitura e os livros estão em baixa. Mas somente através da leitura que as crianças podem receber os estímulos certos. E se esses estímulos forem implantados pelos pais, uma criança pode começar a ler aos quatro ou cinco anos. Do contrário, ela pode ter a mobilidade prejudicada ou enfrentar dificuldades para diferenciar cores.

O problema maior enfrentado na atualidade é que muitos pais têm um nível educacional limitado. Dizem às suas crianças “matemática é difícil mesmo”, dando uma autorização tácita para o seu desinteresse e desengajamento. Esses mesmos pais precisam de apoio. Talvez o maior desafio na nossa educação hoje seja a humanização das relações entre professores e alunos e entre professores e pais. As escolas precisam criar vivências que aproximem as pessoas, não apenas reuniões para reclamar das crianças.

A crise já foi instalada há muitos anos. Mas somente agora, os olhos dos especialistas em educação estão abertos diante da gravidade do problema. Os eletrônicos vieram para ficar. E quando instalaram o seu reinado, trouxeram também a disputa silenciosa, o egoísmo, a violência vivenciada pelos programas, a ausência da comunicação, a rejeição a autoridade e, sobretudo, a falta de sensibilidade. E foi o sábio Salomão que deu o primeiro brado: “Ensina a criança no caminho em ela deve andar e quando crescer não se desviará dele” (Pv. 22:6).

Pais, em vez de coisas, objetos, brinquedos, dê mais tempo, atenção, afeto e amor. Nada substitui isso.Fiquem atentos: Os eletrônicos são ferramentas para a robotização.



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