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Isto é uma vergonha!

Acad. Pedro Luis de Araújo Braga (Cadeira 32)

09/03/2017


A expressão acima é familiar a muitos, eis que proferida, com certa regularidade e convincente eloquência, por conhecido e respeitado âncora de um telejornal, ao noticiar uma ocorrência que o escandalizara.

            “Põe vergonha nisso!...”, costuma aduzir amigo meu, já longevo, não acostumado a se defrontar antes, no decorrer de sua vida e com tanta frequência, com revelações tão repulsivas e deprimentes.

            Mas a extensão, o vulto e a espantosa incidência, nos últimos anos, de desvios e irregularidades que envolvem autoridades, dignitários e pessoas gradas em todas as esferas do poder, permitem-nos agravar aquela qualificação e rotulá-los como uma desfaçatez, um escárnio, um deboche para com a parcela ainda sadia da sociedade.

            “Ganhei, mas não usei...”. “Recebi, mas não gastei...”. “Roubo, mas não peço propina...”, são expressões inusitadas e cínicas que corruptores usam, deslavadamente, na tentativa de justificar a aceitação de presentes ou dinheiro – pedidos ou não – por algo que fizeram em beneficio de pessoas jurídicas, quando no exercício de um cargo público. A eles caberia o dever de dar exemplos de honradez e probidade! E, notem: não se trata de coisas de pequeno valor, ou de doações inexpressivas: fala-se de milhares ou milhões de dólares, não de reais!

            Alguém, jovem sem dúvida, que não viveu um passado ainda recente, talvez influenciado por generalizações tão frequentes na mídia, algumas até propositadamente, com a finalidade de reduzir a gravidade dos acontecimentos, utilizando a expressão “isto sempre aconteceu, com maior ou menor incidência”, poderia perguntar, assustado e cheio de dúvidas: “Será mesmo que sempre foi assim?” Eu respondo, sem medo de errar: Não! Jamais os malfeitos e a corrupção atingiram tal nível. Nunca a classe política esteve tão desacreditada, repudiada mesmo, pela opinião pública. Para confirmar esta realidade, basta verificar o número de votos nulos e brancos nas últimas eleições.

            A verdadeira máfia que se instalou no País antes não existia, talvez até por medo da repressão.

            Voltemos no tempo, apenas a um passado ainda recente, para lembrar nomes de governantes da União que exerceram seus cargos honradamente, sem dolo. Concluíram seus mandatos sem haverem enriquecido durante o desempenho deles. Suas gestões, por motivos ideológicos, foram vasculhadas avidamente e nada foi encontrado – era este o desejo dos “fiscais” – que pudesse ser escrito no céu, de forma indelével e à vista de todos.

            Na convicção de que alguns leitores se surpreenderão com certos nomes que citaremos a seguir, eis que tão discretos foram e, por isso, nem são lembrados, malgrado suas eficiências, cito Presidentes e seus Vice-Presidentes da República, a partir de 1964: o Marechal Castelo Branco e o Dr. José Maria Alkimin (ex-Ministro da Fazenda de JK); o Marechal Costa e Silva e o Dr. Pedro Aleixo; o Gen Emílio Médici e o Gen Adalberto Pereira dos Santos; o Gen Ernesto Geisel e o Alte Augusto Rademaker; o Gen João Figueiredo e o Dr. Aureliano Chaves. Todos foram eleitos indiretamente pelo Congresso – aliás, a forma de escolha adotada, com variantes, pela maioria dos países democráticos – durante o regime militar, que a mídia rotulou de “ditadura militar” e insiste nesta qualificação para que o povo, que nem papagaio, o repita sempre, a maioria sem sequer saber o que é que caracteriza uma verdadeira ditadura. O Estado Novo foi propositalmente esquecido, para não suscitar comparações...

            E para recordar apenas o nome de um dos Ministros de Estado, muito falado à época, cuja Pasta costuma ser, por razões óbvias, contemplada com consideráveis recursos orçamentários, a dos Transportes - e refiro-me ao Cel Mário David Audreazza, que esteve no cargo durante os segundo e terceiro daqueles governos citados – extremamente dinâmico, criativo e empreendedor, que foi o construtor, dentre tantas outras obras “faraônicas”, da Ponte Rio-Niterói – a Ponte Costa e Silva – já inteiramente paga e cujo nome a “esquerdalha” insiste em mudar, morreu pobre. Vitimado por insidioso câncer, amigos seus custearam o caro tratamento a que se submeteu.

            O último Presidente do período revolucionário, o Gen João Figueiredo, Oficial de Cavalaria, exímio ginete desde jovem e aficionado do esporte eqüestre, ao deixar a Granja do Torto onde morava em Brasília, exatamente por causa disso, comprou um pequenino sítio na região serrana do Estado do Rio de Janeiro para poder acomodar seu reduzido plantel no qual montava regularmente. Todavia, foi depois obrigado a se desfazer dos animais e da propriedade porque seus proventos na inatividade não eram suficientes para mantê-los.

            Anos após a morte dele, sua viúva procurou conhecido leiloeiro da Cidade Maravilhosa para se desfazer de alguns bens móveis do casal – não surrupiados dos Palácios do Planalto e da Alvorada, ou de qualquer outra residência oficial. Possivelmente viu-se obrigada a tanto por dificuldades financeiras.

            Tal realidade, todavia, não é do conhecimento público, pois “não vende notícia” – explica a imprensa patrulhada. Mas a colocação de grades pela Marinha, em uma área que é sua e em frente a imóveis seus, é noticiada com grande estardalhaço e dura até cansar. E não interessa a versão da Força Naval a respeito.

            Nossa Força Aérea não foi esquecida nessa incessante campanha contra os militares, já que as Forças Armadas permanecem, inalteradas, como as instituições nacionais que gozam de maior credibilidade. Recentemente ainda foi noticiado, com alarde, o problema do transporte de órgãos doados para transplante. “Vôos que salvam vidas”, foi um dos destaques, seguido de uma revelação de que, após a ordem governamental de que a FAB mantenha uma aeronave em alerta no solo, pronta para atender a doadores, o número de órgãos transportados por ela “aumentou de 5 para 148”. Mas, em destaque, colocaram um comentário afirmando que a Instituição permanente em questão “não transportou 153 órgãos, enquanto que políticos não sofreram restrições”. O que queriam sugerir ou induzir os leitores a pensar? Que para uma causa nobre faltaram aeronaves, mas para atender autoridades com direito a transporte pela FAB não houve restrições? Que os nossos aeronautas são insensíveis à tentativa de salvar vidas? No corpo da notícia encontravam-se outros pormenores esclarecedores da chamada aludida: os 153 corações, fígados, pâncreas, rins e outros órgãos não foram transportados entre 2013 e 2015 – durante mais de dois anos, portanto – o que ameniza o impacto da afirmação anterior. Mas, qual a razão disto? Teriam os equipamentos destinados a essa missão condições de vôo? Com os contingenciamentos orçamentários, haveria ainda recursos necessários para sua manutenção? E quanto ao combustível? Mas isso não interessa divulgar. A versão da Aeronáutica não serve ao propósito da matéria publicada.

            O Exército não foi poupado nessa verdadeira campanha para tentar reduzir sua credibilidade. O alvo foram os Colégios Militares, no meu tempo um só, mas hoje já são doze, com municípios e Estados também querendo ter o seu. Por quê? Por causa de uma suposta lavagem cerebral anticomunista a que o corpo discente é submetido? Ou pela excelência do ensino neles ministrado? Hoje educandários para meninos e meninas, com professores militares e civis de ambos os sexos, administração verde-oliva, é claro, cujo ingresso é obtido mediante concurso, entregam à sociedade, anualmente, jovens assaz preparados para cursar o 3º grau e com nítidos conhecimentos de moral e cívica. A maioria, por razões diversas, não segue a carreira militar. Mas o sentimento de amor à Pátria é unânime na família “zum zaravalho” – o início do grito de guerra dos Colégios Militares – e é esta uma das razões pelas quais, no dia 06 de maio, aniversário da criação do mais antigo deles, muitos acorrem a seus antigos educandários, Brasil afora, para participar do desfile dos ex-alunos. E são estes mesmos que se postam em defesa desses estabelecimentos de ensino, em especial quando se ouve a notícia de que querem fechá-los. É fácil entender com que propósito...

            É pois lícito inferir que há, em certos meios de comunicação social, equipes destinadas a procurar – ou criar – acontecimentos que sirvam ao propósito de denegrir as Forças Armadas, macular sua credibilidade, pois elas são a última trincheira que se opõe à solerte e permanente tentativa de implantação, no Brasil, de ideologia fracassada, verdadeiro embuste, já rechaçada antes por duas vezes. As Forças Armadas Brasileiras, povo fardado, têm um compromisso de honra: este País jamais será dominado pelo comunismo! E porque, como assinalamos, quando estiveram no Poder, não houve corrupção generalizada, e sim ordem e progresso é que nos últimos movimentos populares, não têm faltado participantes que clamam pela “volta dos militares” para por fim a essa calamidade patente.

            Bem, a propósito, seria bom que tais profissionais, pseudo-intelectuais, que se encastelam em meios de comunicação, em certas cátedras e em alguns sindicatos, lessem o que ainda há pouco declarou o conhecido Diretor de Cinema, o polonês Tomasz Wasilewski: “O comunismo foi uma das piores coisas que poderiam acontecer no mundo”.

            E, por tal conduta, insistindo numa reconhecida falácia, poderíamos fazer a esses maus brasileiros a mesma pergunta que a Embaixadora dos EUA na ONU fez àqueles que, na Síria e no Iraque, estão destruindo sítios arqueológicos, Patrimônios Culturais da Humanidade: “Não há literalmente nada que faça com que vocês sintam vergonha?”.

            Surpreendem-nos, a todo instante, as revelações sobre a criatividade, a maneira inusitada de recolher e pagar propina, tudo visando mantê-la encoberta, em sigilo: operações triangulares utilizando paraísos fiscais, criação de órgãos especiais nas empresas para a condução de tais práticas, organização de empresas de fachada, formação de cartéis, etc, algumas delas já conhecidas, porém diabolicamente aperfeiçoadas. Também formas diversas de lavagem de dinheiro, como compra de jóias, pinacotecas, objetos de arte, roupas caras de grife, automóveis de luxo, imóveis, etc...

 Preocupa-nos hodiernamente a tentativa de aprovar a legalização do jogo, com a conseqüente abertura de cassinos. Estes serviriam como lavanderias autorizadas para o dinheiro espúrio...

É hoje infindável e constante a divulgação de malfeitos e de crimes. É enorme e crescente a relação de envolvidos em tais atos, corruptores e corruptos, todos abjetos, que envergonham a Nação e que precisam ser investigados; caso culpados, submetidos a processo. Se condenados, recolhidos às penitenciárias mas, também, obrigados a devolver o que de ilegal distribuíram ou receberam.

Precisamos estar atentos a uma outra manobra urdida no campo político: personalidades seguramente envolvidas e antes que sejam acusadas arquitetam um meio de cercear a ação do Ministério Público, da Polícia Federal e até de Magistrados a cujas cortes ficaram afetos tais escândalos. Para salvar a própria pele, não hesitam em enfrentar o clamor popular que se colocou, ostensiva e ardorosamente, a favor das investigações, dos processos, enfim, de um “Basta!” a essa roubalheira.

É certo, entretanto, que não se pode apoiar e aplaudir condutas arbitrárias, violentas, precipitadas e desnecessárias de quem quer que seja, em especial por parte de agentes da lei e da ordem. Uma denúncia só vale se provada e só deveria vir a público quando não resultasse apenas da palavra de um corruptor. O ônus da prova cabe ao acusador. Pois a delação pode ser fruto de uma vingança ou até mesmo encomendada por terceiros. Porque, como se constata hoje, o “furo” jornalístico resulta, quase sempre, do depoimento de um corruptor, mas mesmo assim é estampado em manchetes, às vezes até com fotografias. Mesmo que, posteriormente, a inocência do acusado venha a ser provada, seu moral já foi maculado, o mal já está feito. A verdade, o desmentido (que “não vende noticia”), quando publicado, aparece em local esquecido e secundário, em pequeno tamanho e sem qualquer destaque.

O quadro vergonhoso relatado acima não é exercício de ficção. Infelizmente, é a realidade nacional, que envergonha a todo homem de bem e suscita um sentimento de tristeza e de impotência. A Presidente do BNDES recentemente nomeada, depois de tomar conhecimento desse quadro, no qual a instituição que dirige está também envolvida, declarou: “O Brasil perdeu muito em credibilidade. Reconstruir credibilidade não é de um dia para o outro. Você não consegue isso com discursos, mas com fatos”.

É verdade! Destruir é fácil, rápido, custa pouco e qualquer um pode executar. Mas a reconstrução é complexa, lenta, difícil, onerosa, exaustiva e exige competência para consegui-la.

Aí está um desafio posto à frente de todo bom brasileiro. Cada um tem de fazer a sua parte, sem demora, enquanto é tempo.

Goethe, o grande pensador alemão e considerado um dos maiores gênios que a humanidade já produziu, ensinou-nos uma receita muito simples: “Se cada um de nós varrer a soleira de sua porta, toda a cidade andará limpa”.

Mãos à obra caros leitores! Vamos fazer a nossa parte: ajudar o País a por fim a essa vergonha!



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