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Realizar depende de sonhar

Acad. Noélio Duarte (Cadeira 13)

A vida é uma gostosa experiência, cheia de surpresas diariamente. Aliás, não há um dia que se repita. Portanto, a vida é feita de novidades. Anteontem foi diferente de ontem que foi diferente de hoje que será diferente de amanhã... Por isso, precisamos reaprender a viver. E fazemos isso quando vamos saboreando o dia com suas novidades e vencendo os problemas que sempre aparecem. Mas viver é uma emoção a parte. E tem gente que sabe saborear a vida, enquanto outros, a enchem de preocupações, ansiedades e reclamações.

Certamente você conhece pessoas que vivem bem e outras que vivem mal. A vida tem dois lados. E são mais felizes aqueles que sabem saborear os presentes que chegam todos os dias. Eu disse presentes! Sabe por que? Todos os dias recebemos 1440 presentes que são os minutos. E à cada dia Deus envia mais 1440 minutos para usarmos como pudermos. Muitos utilizam esses presentes de forma leviana e precipitada. Outros, investem esse tempo em amizade, companheirismo, conhecimento, cultura e crescimento pessoal.

Li recentemente na Folha de S. Paulo, a história fantástica da mineira Chames Salles Rolim, 97 anos bem vividos. Ela concretizou uma façanha de poucos. Beirando a um século de existência, a comerciante de origem libanesa se formou em direito em agosto, em Ipatinga (MG). Agora, a faculdade onde a mãe de dez filhos, com 28 netos e 18 bisnetos, estudou quer que o “Guinness Book” verifique se ela é a mulher mais velha do mundo a se graduar.

Um jornalista, influenciado por tão graniosa façanha, foi até a sua cidade, enviado pelo seu Jornal. E ele a entrevistou. Sinceramente? Nunca saboreei tanto uma notícia como essa. Essa mulher é aquilo que podemos dizer: “Vim, vivi e venci!”. Veja alguns trechos de sua entrevista.

“Não gosto de ser chamada de doutora. Sou apenas mais uma bacharelanda em direito. Esse diploma demorou quase uma vida inteira para chegar em minhas mãos. E só chegou porque nunca me poupei diante das circunstâncias da vida.

Nasci em Santa Maria de Itabira (MG), em 1917. Meu pai era libanês e dizia que meu nome significa sol perfeito. Na minha cidade conheci José, o meu grande amor.

Para dar conta dos dez filhos que tivemos, trabalhamos muito. José abriu uma farmácia e era minha função atender as pessoas. Foram 50 anos atrás de um balcão.

Sempre respondo que o excesso de amor do meu marido adiou o meu sonho de ir à faculdade. Um dia contei a ele que havia me matriculado no curso de filosofia. Não demorou muito, ele reuniu os meus filhos e disse que eu iria abandoná-lo. Ele cortou a minha asa quando ousei finalmente voar. Mas juro que eu não senti raiva dele.

José era extremamente ciumento, mas foi muito paciente no momento mais difícil, quando perdemos Ribamar, nosso segundo filho. Eu pedi a separação. Não queria ter mais filhos para não passar por aquela dor novamente. Mas ele permaneceu ali, firme. Foi a minha salvação.

Os anos foram passando, os filhos crescendo, saindo de casa e, enquanto o sonho não se realizava, encontrei na poesia o meu alento.

Publiquei três livros. O quarto já está pronto.

Depois de 63 anos juntos, José partiu no ano 2000.

Fiquei anos remoendo a sua ausência e pensando que entrar na faculdade seria um desrespeito à sua memória.

Um dia, meu filho chamou a minha atenção. Disse que não havia mais tempo para tanta espera e que eu precisava realizar o meu sonho.

Foi o que eu fiz. Prestei vestibular, aos 92 anos, na Fadipa (Faculdade de Direito de Ipatinga). Lembro da reação dos colegas no primeiro dia de aula. Foi um espanto!

Ingressei no curso com duas filhas, que desistiram, e mais uma neta, que se forma no final deste ano.

Para fazer a primeira prova dei um “sustinho” na família. Fui parar na UTI, por nervosismo, acho. Em casa, tive um princípio de infarto e derrame. A minha boca ficou meio torta e parte da visão, comprometida.

Mas não desisti. Não fui uma aluna brilhante, mas metódica. Era a primeira a chegar e a última a sair.

Durante o curso, consegui unir um casal em uma audiência de conciliação, aqui no fórum. Eles são meus amigos hoje. Estão felizes.

Se não fosse a minha idade avançada, abriria um consultório de conciliação gratuito para casais. Isso aliviaria a demanda na Justiça, não é mesmo? Escrevi minha monografia, à mão, sobre os direitos dos meninos de rua.

A minha colação de grau foi emocionante. Um filme de 97 anos passou na minha cabeça no momento em que peguei o meu diploma.

Ainda não pensei sobre a prova da OAB [Ordem dos Advogados do Brasil]. O meu coração está dolorido em razão das últimas perdas na família. Preciso jogar a minha dor nas ondas do mar para voltar a ser quem eu sou.

Aos 97, vejo que tenho muitas arestas. Ainda estou sendo lapidada. Mas sou feliz.

Quero continuar tomando a minha água de coco e fazendo hidroginástica. Quem sabe, assim, com muita saúde, eu ainda consiga ver o nascimento do meu primeiro trineto?

A sra. Chames Salles Rolim, do alto de sua longevidade inteligente, está nos mandando alguns recados. Acho que ela andou lendo alguns escritos do apóstolo Paulo, principalmente aquele que diz: “...Esquecendo-me das coisas que atrás ficam e, avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o algo...”(Fil. 3.14) e certamente ouviu os conselhos de Salomão: “A sabedoria é a coisa principal; adquire pois a sabedoria: sim, com tudo o que possues, adquire o conhecimento”. Pv. 4.7.

E o escritor de Eclesiastes nos dá boa notícia: “Tudo tem o seu tempo determinado...” (Ecl. 3.1). E quem sabe se já chegou tempo de você olhar para dentro de você, como a Sra. Salles olhou, e dizer: ‘É agora!’. E em ato continuo, retirar todos aqueles sonhos engavetados pelo tempo e circunstâncias e começar a realizá-los. Tempo você tem. Aliás, se inspire naquela Sra. e saia já da sua área de conforto. Há muita esperando por você lá fora. Corra porque ainda há tempo. Mas isso requer uma atitude de sua parte. Corra porque o tempo não espera...



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