Acad. Ruth Vianna (Cadeira 39)
Mãe, cadê você?! Estou com tanta saudade!... Acabei de chegar, e quero abraçá-la, beijá-la, dividir com você as lembranças mais preciosas; as mais açucaradas; aquelas que se eternizam em cada gesto seu! Lembra mãe, quando ao lado de meu berço você ficava horas seguidas me olhando com ternura, desenhando meu futuro no seu coração? Sonhava!... Sonhava!... E assim, sonhando acordada, você me via já grande, recebendo troféus, medalhas... Você construía meu amanhã com as coisas mais belas e puras que existem em seu ser. Lembra quando você descobriu meu primeiro dentinho? E quando você me encorajou a dar o primeiro passo? Eu ensaiei várias vezes, caí, levantei, e continuei toda desengonçada, com você me cercando e me incentivando. Mais tarde, com o coração apertado por aqueles instantes de separação, você me levou para o jardim da infância. Lembra? Aposto que na volta pra casa você enxugou algumas lágrimas. Mãe, você ainda lembra daquela noite fria, quando em plena escuridão, sem temer a tempestade nem o trovão, você correu comigo em seus braços em busca de socorro pra me livrar da febre que me consumia? E quantas vezes, mãe, você correu pra me livrar dos perigos que nem eu mesma percebia? Em todos esses momentos você estava lá! Sempre atenta à minha segurança. Quando eu me machucava, somente um remédio me acalmava: seus beijos; quando os raios riscavam o céu me deixando assustada, seu abraço apertado era o meu porto seguro. Não há no mundo ninho mais acolhedor! Lembra quando você tentava esconder de mim – pra que eu não sofresse – suas angústias, sua tristeza; e inventava um sorriso pra fantasiar suas feridas? Lembra também quando ao ouvir de mim algum “discurso” sem pé nem cabeça, você fingia acreditar? Mas, na verdade, você já sabia que o que eu tinha pra contar era bem diferente; e que, amedrontada, eu preferia camuflar. Ah, mãe! Era tão engraçado! Por toda essa doação, incondicional, eu quero cantar agora o seu amor! De tal maneira, que as notas musicais possam embalar você, assim como você vem me embalando a vida inteira. Quero cantar o milagre de você me trazendo à luz! Quero exaltar aqueles momentos preciosos, quando você me falava de Jesus! O pacote que estou preparando é muito pobre diante do que você vem me dando a vida inteira. Ele é abstrato, diferente. Veja! Vou misturar seus medos, suas noites sem dormir, suas mágoas, sua ternura, seus beijos milagrosos, com minhas inocentes fantasias de criança!... E depois que cresci, com minha incapacidade de compreendê-la, minha arrogância, meu egoísmo; e, muitas vezes, minha ingratidão. Vou colocar tudo isso num só pacote, no mais belo buquê, com meu coração lá dentro. Sim, mãe! Meu coração agradecido e meu pedido de perdão pelas vezes que a fiz chorar; pelas vezes que a feri com minhas respostas ásperas, minhas mentiras, minha maneira meio torta de amar. Agora, com esse pacote nas mãos, mãe querida, de que mais você está lembrando, hein? Fala pra mim! Fala mãe!
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