Pr. Luciano Vergara
Devocional realizada na Reunião Plenária da AELB em maio de 2016.
Êxodo 32.17-18
“Ouvindo Josué a voz do povo que gritava, disse a Moisés: Há alarido de guerra no arraial. Respondeu-lhe Moisés: Não é alarido dos vencedores nem alarido dos vencidos, mas alarido dos que cantam é o que ouço.”
Ø Entendendo o termo – O vocábulo “vitória”, no idioma português, deriva do substantivo comum latino “victoria”, que por sua vez, afemina o nome próprio e vocativo Victor (significando vencedor) e cuja forma feminina nomeia mulheres como Victoria ou Vitória. O termo substantiva o verbo “vincere” (vencer, em latim).
Ø Recorte histórico – 1 Ontem, dia 8 de maio, as nações do Ocidente comemoraram o Dia da Vitória, assinalando a derrota formal do regime nazista na Europa, ocorrida em 8 de maio de 1945. Na Rússia, uma comemoração similar ocorre precisamente no dia 9 (hoje, portanto), em razão de os soviéticos terem mantido como referência a data previamente combinada com os países aliados, mas que a imprensa mundial, na ocasião, antecipou, fazendo com que massas da população europeia iniciassem os festejos tão logo ouviram as primeiras notícias do triunfo.
Ø Recorte histórico – 2 A História humana é profícua em narrar as guerras e os feitos cujos resultados foram motivo de alegria e comemoração, sendo o triunfo sobre os inimigos e as adversidades festejado largamente pelos vitoriosos e lamentado amargamente pelos derrotados. Na mesma proporção, exaltam-se de orgulho as partes vencedoras enquanto frequentemente humilham os perdedores.
Ø Examinando o texto bíblico – 1 O texto de Êxodo descreve uma percepção incerta sobre o que ocorria, identificado pelo imediato Josué como “alarido de guerra”. A impressão não lhe trouxe alegria nem qualquer conforto, pois é a ansiedade provocada pelos sons vindos do arraial que imprime nele a prontidão para o combate. Não há louvores, nem exclamações de gratidão, e, sim, algo confuso e irreconhecível que é profusamente cantado pela massa desgovernada.
Ø Examinando o texto bíblico – 2 Mas é a percepção madura do estadista, pastor e legislador hebreu que melhor identifica a motivação por trás daquele alarido. Para Moisés, não há dúvidas: é som de cantoria vazia. Nele não existe motivo de alegria nem de lamento; é apenas canto sem sentido, gritaria, cantigas embriagadas e berros sem decoro, sem raciocínio, sem finalidade senão para dar vazão às pulsões da carne.
Ø Examinando o texto bíblico – 3 Sabemos, por uma leitura mais ampla da narrativa, que ocorria no arraial um desmando que em realidade maculava o cargo ocupado por Arão, o qual estava provisoriamente em comando, como lugar-tenente de Moisés. Infelizmente, Arão transigiu na ordem vigente e deu largas à indisciplina do povo. Não foi exemplo nem teve comando para compelir o povo à modéstia e à contenção.
Ø Entendendo a narrativa – Mas havia de fato uma “guerra” sendo travada pelo coração do povo, entre dois pensamentos: por um lado, se só o Senhor é Deus e deve ser temido e servido como tal ou, por outro lado, se Deus seria um deus entre tantos outros e lhe caberia então lugar de coadjuvante. A mesma guerra surgiria mais à frente na História de Israel, quando o profeta Elias confrontasse os profetas de Baal no Monte Carmelo.
Ø História recente – De volta à contemporaneidade e à História recente, o sucesso sobre uma das formas de regime autoritário ao fim da Segunda Grande Guerra, marca somente triunfo parcial; é a rigor uma batalha vencida. A verdadeira guerra, muito mais ampla e surda, porém, ainda está sendo travada nos planos político, econômico e ideológico, a demandar o coração dos povos.
Ø Agenda viciada – Na agenda humana, em que amiúde se valorizam a sofisticada tecnologia, a afetação de certas inteligências irrelevantes, o desperdício irresponsável praticado por indivíduos e grupos, as expressões que se pretendem arte isenta de julgamento, pendem avanços esperados pela maioria das gentes, não obstante o drama de milhões de vítimas e refugiados de guerra, as mais bizarras formas de injustiça, as variadas manifestações de corrupção, o desigual tratamento dado às pessoas, rotuladas a priori por seu poder econômico-financeiro, as múltiplas modalidades de opressão, exclusão e abuso e a assimetria no acesso à informação e a mecanismos de justiça.
Ø Profeta com coração de jornalista – Nesse sentido, o papel de relatar a realidade, junto com o papel de interpretá-la, como foi demonstrado por Moisés ao recolocar corretamente a apreciação dos fatos e corrigir a percepção de seu imediato, aponta para a necessidade, ainda presente, de apurar a verdade e julgar os fatos à luz da razão e dos valores que preservem a justa interação com o outro, para o reconhecimento dos rumos tomados por líderes e liderados.
Ø Ouvir antes de julgar – Moisés só foi exato em sua avaliação porque soube ouvir – e discernir o que ouvia – antes de emitir uma sentença, até compreender a realidade. Não se precipitou; primeiro, apurou o significado, para, após conhecer seu conteúdo, só então emitir um parecer. Essa simples metodologia é sábia e consistente e deve ser aplicada no dia-a-dia. Ela norteia as opiniões, dá segurança e tranquilidade quando o que se busca é trilhar a senda da sensatez e da serenidade.
Ø Timbres específicos – As vozes de vencedores e vencidos têm timbres diferentes. Ali, não havia vitoriosos nem derrotados. Os vitoriosos festejam, riem e exaltam seus heróis. Os vencidos choram, uivam e lamentam suas baixas. Na cantoria banal e insana nada faz sentido, qualquer palavra é apenas pretexto para cantar. Mas o que se canta ali não tem compromisso com significados reais, é totalmente sem valor.
Ø O hino da vitória – 1 Diz certo adágio que não se deve cantar vitória antes do tempo. Por isso, quem quer cantar a bênção da vitória, deve, primeiro, orar, cochichando ao ouvido do Senhor todas as suas demandas e projetos para suplicar o seu favor. Constrói-se assim uma relação de confiança e santa expectativa, na certeza de que Deus jamais se omite diante do que lhe pedimos. Deus pode dizer: sim ou pode dizer: não. Pode dizer ainda quando e como vai encaminhar providências.
Ø O hino da vitória – 2 Há quem antecipe a própria derrota e cedo professe seu pessimismo, “mas os que esperam no Senhor renovam as suas forças, sobem com asas como águias, correm e não se cansam, caminham e não se fatigam”. Esperam esses que a sua vitória não seja a das aparências, da manutenção das conveniências, das mudanças sem transformação. Esperam que, mesmo alguma derrota aparente e circunstancial, não lhes empane o brilho da vitória que se obtém realmente ganhando, pois eles, elas jamais aceitam vencer perdendo. Sua vocação é ir além e, com um nome novo, sentarem-se no trono com Deus, comerem do maná escondido e nutrirem-se da árvore da vida.
Romanos 8.36-38
“Como está escrito: Por amor de ti, somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro. Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.”
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